Ao longo da história da ópera, ela serviu como entretenimento tanto ao povo quanto à aristocracia, dos teatros populares aos primeiros teatros pagos em Veneza. Veio rara no Renascimento com Monteverdi, pertenceu ao quase ausente Barroco, ao pomposo Classicismo, ao frugal apogeu do Romantismo, à consagração no Pós-Romantismo, às rupturas do Dodecafonismo. Às experimentações da contemporaneidade, como esta, sem marcas de fadiga, a ópera se molda sem exaurir as tendências artísticas que ainda são possíveis e nos fazem surpreender, até mesmo no paladar. Tal qual o porco, que passa por séculos em receitas tradicionais dos escravos, dos burgos e dos nobres e cujos apresentação e requinte flertam com os costumes das épocas.
Simone Mattar nos revela em três atos que o porco continuará habitando os mais recônditos sonhos dos cozinheiros e dos poetas e, malgrado toda a artificialidade da ópera, ela igualmente se manterá como das mais espetaculares maneiras de proporcionar quimeras.